Por que me preocupar? Não tenho nada a esconder
Estamos caminhando rapidamente para um futuro em que tudo será analisado, registrado e potencialmente usado contra nós – independentemente de termos algo a esconder ou não.
A frase "Por que me preocupar? Não tenho nada a esconder" é repetida com uma frequência inquietante, como se bastasse uma declaração de inocência para assegurar que a única razão para se preocupar seria a culpa por algum crime. Mas isso levanta duas questões fundamentais: o que, afinal, constitui um crime? E de onde vem a equivocada ideia de que autoridades sempre agem de forma justa e legal?
Aqueles que dizem não ter "nada a esconder" geralmente partem da premissa de que as autoridades jamais os perseguiriam sem motivo legítimo. Qualquer pessoa que sugira o contrário é taxada de paranoica, presa de teorias da conspiração ou vítima de excesso de filmes de espionagem. Afinal, coisas assim só aconteceriam em regimes autoritários, como a Alemanha Oriental ou a União Soviética. No mundo “livre”, estamos supostamente imunes a abusos dessa natureza. Ou será que não?
A verdade, porém, é outra. Pensar que estamos imunes a abusos é não apenas ingênuo, mas perigoso. Vivemos numa era em que a vigilância se tornou onipresente e a definição do que é "errado" ou "ilegal" se amplia de forma alarmante. Não precisamos acreditar que cada passo nosso está sendo monitorado para perceber que, quanto mais expostos estamos, maior o risco de sermos alvos de injustiças. E estamos caminhando rapidamente para um futuro em que tudo será analisado, registrado e potencialmente usado contra nós – independentemente de termos algo a esconder ou não.
Controle, Não Segurança
O argumento clássico é que a vigilância é necessária para nossa segurança. Mas essa narrativa mascara o verdadeiro objetivo: controle. Controlar não apenas ações, mas pensamentos e comportamentos. Não é preciso quebrar uma lei explícita para sofrer as consequências. Elas podem ser sutis: ser banido de redes sociais, ter um pedido de crédito negado, ser limitado geograficamente ou impedido de realizar atividades básicas, como comprar alimentos.
Essas consequências podem até parecer distantes, mas já são realidade para alguns. Um exemplo claro foi o congelamento de contas bancárias de pessoas que apoiaram financeiramente o Truckers Convoy no Canadá. Um ato pacífico, longe de qualquer ilegalidade, transformou cidadãos comuns em "criminosos" aos olhos do sistema. Isso demonstra como ações simples, que antes passariam despercebidas, agora podem resultar em punições severas, com respaldo de governos e até mesmo da opinião pública.
O Perigo da Passividade
Essa aceitação passiva é o que Whitney Webb chama de "obediência passiva". Cada vez mais, o que antes era visto como um direito – protestar, discordar, se expressar – se torna motivo de perseguição. E o que se pede das pessoas? Conformidade. Ficar fora do radar. Não criar problemas. É a mentalidade de quem prefere se proteger do sistema a questioná-lo.
No entanto, o conformismo não é uma solução. Não importa o quão obediente alguém seja, o controle total é um objetivo que não admite exceções. Sistemas de vigilância sofisticados, drones, inteligência artificial e identificação biométrica são apenas algumas das ferramentas que tornam impossível escapar à lógica do controle. Não haverá lugar para se esconder.
O Futuro da Liberdade
Estamos diante de uma escolha: aceitar a vigilância em nome de uma falsa segurança ou resistir enquanto ainda há espaço para isso. Não se trata de romantizar a rebeldia, mas de defender princípios básicos de liberdade e privacidade. Porque, no fim, a frase "não tenho nada a esconder" deixa de fazer sentido quando até o mais inocente dos atos pode ser considerado um crime. O verdadeiro problema nunca foi ter algo a esconder, mas sim o poder desmedido de quem observa.
Do material de Todd Hayen.